Você pode ter um excelente produto nas mãos. Pode ter investido tempo no design, na embalagem, no marketing. Pode ter construído uma loja virtual impecável ou montado um ponto comercial em uma rua estratégica da cidade.
Mas, se não souber calcular o preço de venda corretamente, corre o risco de todo esse esforço não gerar lucro — ou pior, gerar prejuízo.
Na Notazz, entramos em contato com milhares de micro e pequenos empreendedores todos os meses.
Muitos deles chegam até nós com a mesma dúvida: “Como saber se estou vendendo pelo preço certo?”
A verdade é que precificar de forma inteligente não precisa ser um bicho de sete cabeças.
Com um bom entendimento dos conceitos e uma metodologia clara, qualquer pessoa pode chegar a um preço justo — para o negócio e para o cliente.
Neste artigo, vamos te mostrar como calcular o preço de venda de um produto de maneira simples, prática e realista, sem fórmulas inalcançáveis ou jargões acadêmicos.
E mais: com base em experiência de campo, erros comuns que vemos acontecer e exemplos práticos para você aplicar no seu dia a dia.
Antes de tudo: por que precificar errado pode sair (muito) caro?
Você já ouviu a frase “o lucro está na compra, não na venda”?
Ela carrega verdade, mas também esconde um problema. Porque, na prática, o lucro está mesmo é na precificação inteligente.
Muitos empreendedores acreditam que basta multiplicar o custo de um produto por dois ou três e pronto: preço definido.
Outros têm medo de parecerem “caros” e reduzem os valores, vendendo abaixo do que deveriam.
Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: margens apertadas, dificuldade para crescer e aquela sensação constante de estar trabalhando muito e ganhando pouco.
Na nossa experiência, o erro mais comum não está em querer lucrar demais — mas em não considerar todos os custos que o negócio realmente tem.
Aluguel, taxas, impostos, frete, embalagens, funcionários, marketing… tudo isso precisa entrar na conta. E sim, dá pra fazer isso sem planilhas complexas.
Ao longo dos próximos tópicos, vamos te mostrar um passo a passo que funciona para negócios de todos os tamanhos — desde quem vende no Instagram até quem tem uma operação estruturada de e-commerce ou loja física.
1 – Entenda (de verdade) os seus custos
Você só pode precificar bem aquilo que compreende completamente. E isso começa pelos custos — um termo que, embora pareça simples, frequentemente é confundido ou negligenciado por quem está começando.
Custos fixos vs. custos variáveis
Vamos simplificar:
- Custos fixos são aqueles que você tem todo mês, mesmo que não venda nada. Exemplo: aluguel, contador, plataforma de e-commerce, salário fixo de funcionários, etc.
- Custos variáveis mudam conforme o volume de vendas. Exemplo: matéria-prima, embalagem, taxas de pagamento, comissão sobre vendas.
Muita gente comete o erro de considerar apenas os custos variáveis ao definir o preço.
Mas pense: se o seu aluguel é R$ 2.000 e você vender 100 produtos por mês, cada produto precisa pagar R$ 20 desse aluguel, além de cobrir os custos variáveis e ainda deixar lucro.
Como calcular na prática?
Um caminho prático é somar todos os seus custos mensais (fixos + variáveis estimados), depois dividir esse valor pela quantidade média de produtos vendidos no mês.
Isso já te dá uma base do custo médio por unidade, que precisa ser coberto antes de pensar em lucro.
Exemplo prático:
Suponha que você tenha os seguintes custos mensais:
- Aluguel: R$ 2.000
- Internet: R$ 200
- Ferramenta de gestão: R$ 100
- Matéria-prima por produto: R$ 30
- Embalagem por produto: R$ 5
- Taxas de venda: R$ 4 por unidade
Se você vende 100 produtos por mês, seus custos fixos por unidade seriam:
(2.000 + 200 + 100) / 100 = R$ 23
E seus custos variáveis por unidade: 30 + 5 + 4 = R$ 39
Custo total por unidade: R$ 62
Esse número é essencial. Só depois de entendê-lo, é possível avançar para a formação do preço de venda.
Na prática, considerando esse exemplo, é muito comum empreendedores iniciantes acharem que seu produto “custa R$ 30” porque olham apenas para o valor da matéria-prima.
Ao longo do tempo, isso vira uma bola de neve, especialmente quando o negócio começa a crescer.
Então, se você ainda não tem clareza dos seus custos, esse é o primeiro passo. Sem isso, o resto é chute.
2 – Defina sua margem de lucro com consciência (e sem ilusão)
Depois de conhecer seus custos, o próximo passo é responder a pergunta que todo empreendedor se faz: “Quanto eu quero ganhar em cada venda?”. A resposta a essa pergunta é o que chamamos de margem de lucro.
Mas atenção: essa é uma das etapas mais mal interpretadas no processo de precificação.
Margem não é chute — e muito menos ganância
Um dos erros mais comuns que vemos no mercado é quando o empreendedor escolhe a margem “de cabeça”, com base em achismos ou medo. Algo como: “Vou colocar 100% de margem pra garantir lucro”, ou então “Se eu colocar muita margem, ninguém vai comprar”. Nenhuma das duas estratégias é saudável.
Margem de lucro é uma escolha estratégica, que deve considerar:
- O valor percebido do seu produto no mercado.
- Seus diferenciais competitivos.
- O comportamento e poder de compra do seu público.
- O seu segmento (moda, alimentação, tecnologia, artesanato… cada um tem margens típicas diferentes).
- E, claro, os objetivos financeiros da empresa.
Exemplo prático:
Lembra do custo total de R$ 62 que calculamos no tópico anterior?
Se você quiser uma margem de 40% de lucro, seu preço de venda precisa ser:
62 ÷ (1 – 0,40) = 62 ÷ 0,6 = R$ 103,33
Esse tipo de cálculo evita que você simplesmente “adicione 40% em cima” do custo (o que seria: 62 + 40% = R$ 86,80), porque isso geraria uma margem ilusória. É por isso que usar a fórmula certa faz diferença.
Dica prática: existe uma diferença entre markup (um multiplicador aplicado sobre o custo) e margem de lucro real. A margem é o que sobra efetivamente como ganho, já descontando os custos. Se quiser mais precisão, sempre calcule a margem real com base na fórmula acima.
Precificar é posicionar
Vale lembrar: o preço também comunica valor. Um produto barato demais pode fazer o cliente desconfiar da qualidade. Já um preço mais alto, quando bem justificado, pode reforçar exclusividade, autoridade e percepção de valor.
Na prática, percebemos que os empreendedores que mais crescem são aqueles que não têm medo de precificar corretamente, mesmo que isso signifique sair um pouco da média do mercado — desde que o produto entregue o que promete.
Lembre-se: você não está competindo só por preço, e sim por valor percebido.
3 – Use o método do Markup de forma inteligente (e evite as armadilhas comuns)
Se tem um método que ajuda — e muito — os empreendedores na hora de precificar, esse método é o Markup.
Ele é simples, direto e pode ser aplicado tanto por quem vende produtos físicos quanto digitais.
Mas, como toda ferramenta, ele só funciona bem quando usado da forma certa. E é aqui que muita gente tropeça.
O que é Markup?
De forma prática, o Markup é um fator multiplicador que transforma o custo de um produto no seu preço de venda.
Ele já considera os custos operacionais, despesas, impostos e a margem de lucro desejada. O cálculo da fórmula mais comum é:
Markup = 100 / [100 – (despesas + margem de lucro desejada + impostos)]
Vamos a um exemplo para fixar:
Suponha que seus custos representem:
- Despesas fixas e variáveis: 30%
- Margem de lucro desejada: 25%
- Impostos sobre a venda: 10%
Então o cálculo do seu markup seria:
Markup = 100 / [100 – (30 + 25 + 10)] = 100 / 35 = 2,86
Ou seja, para cobrir tudo isso e ainda obter lucro, você deve multiplicar seu custo total por 2,86. Se o custo de um produto for R$ 50, o preço de venda sugerido será:
R$ 50 x 2,86 = R$ 143,00
Um alerta importante
Na prática, é comum empreendedores inexperientes aplicarem um markup genérico, do tipo “vou sempre multiplicar por 2”, sem considerar os reais percentuais de despesa, imposto e lucro. Isso gera um cenário ilusório: o produto parece lucrativo, mas não cobre todas as contas no fim do mês.
Como aplicar isso no seu negócio?
- Some seus percentuais de custo fixo, impostos e margem de lucro.
- Use a fórmula do markup (acima).
- Multiplique o custo total unitário de cada produto por esse markup.
- Analise se o preço final faz sentido para o mercado e para seu cliente-alvo.
- Se estiver muito acima, reveja custos ou margem, mas não reduza sem critério.
O markup não é apenas uma fórmula — é uma bússola. Ele te mostra com clareza o impacto das suas escolhas operacionais e estratégicas na hora de formar preço. Ignorá-lo é navegar no escuro.
4 – Conheça o seu cliente e o seu mercado (e precifique com estratégia, não só com cálculo)
Você pode ter o custo sob controle. Pode usar o markup corretamente. Pode calcular tudo na ponta do lápis. Mas, ainda assim, errar no preço. Como?
Desconsiderando quem é seu cliente e como ele enxerga o valor do que você vende.
Precificar não é só uma equação matemática — é uma decisão estratégica.
Valor percebido ≠ preço real
No mercado, o que as pessoas estão dispostas a pagar por algo nem sempre tem a ver com o custo daquele produto.
Elas pagam pelo valor que percebem. E esse valor pode ser influenciado por fatores como:
- Embalagem e apresentação;
- Atendimento e experiência de compra;
- Reputação da marca;
- Qualidade percebida do material;
- Exclusividade, status, design;
- Causa social associada ao produto;
- Velocidade de entrega;
- Garantias e pós-venda.
Em outras palavras, o mesmo produto pode valer R$ 40 para um cliente e R$ 120 para outro — dependendo do contexto, da forma como é apresentado e da conexão emocional que cria.
O que isso significa na prática?
Você precisa entender profundamente o seu público. Isso envolve perguntas como:
- Quem é meu cliente ideal?
- Quanto ele está acostumado a pagar por esse tipo de produto?
- Ele busca preço baixo, exclusividade ou conveniência?
- Ele vê meu produto como essencial ou supérfluo?
- Quais dores ele quer resolver com essa compra?
Algo interessante que pode acontecer é que aqueles negócios que vendem para públicos diferentes usando a mesma lógica de precificação acabam se perdendo.
Por exemplo: um artesão que vende no Instagram e também expõe em feiras pode precisar de duas estratégias diferentes de preço, ainda que o produto seja o mesmo.
Ferramentas para entender seu mercado
- Pesquise preços da concorrência direta e indireta.
- Leia avaliações de produtos semelhantes no Mercado Livre, Amazon, Shopee.
- Faça enquetes com seus seguidores ou clientes.
- Utilize o Google Trends para entender o interesse por determinados produtos.
- Acompanhe grupos e comunidades onde seu público se informa e conversa.
Dica prática: valorize aquilo que o seu público valoriza. Não tente competir com grandes varejistas se o seu diferencial está na exclusividade, no toque humano ou no propósito da marca. Preço baixo nem sempre atrai — mas valor percebido sim.
5 – Teste, ajuste e monitore continuamente seus preços (porque o mercado muda, e você também)
Mesmo depois de todo o cálculo, planejamento e estratégia, o preço ideal não é uma fórmula fixa.
Ele é um ponto de partida — e precisa ser testado, ajustado e acompanhado ao longo do tempo.
Por mais que pareça seguro manter um preço estático, isso pode ser perigoso.
O mercado muda. Seu público muda. Seus custos mudam. E, com isso, a percepção de valor também evolui.
A importância de testar
Uma das atitudes mais inteligentes que um empreendedor pode ter é validar diferentes faixas de preço, especialmente quando está lançando um novo produto ou entrando em um novo canal de vendas.
Você pode, por exemplo:
- Fazer testes A/B com duas versões de preço para ver qual converte mais;
- Oferecer um produto por um valor promocional por tempo limitado e observar a aceitação;
- Criar pacotes (kits, combos) com diferentes margens e analisar qual entrega mais rentabilidade no final.
Monitore seus números com lupa
Não existe precificação inteligente sem acompanhamento financeiro regular. O preço ideal é aquele que mantém o negócio saudável — e isso só se mede com números claros. Use ferramentas que te ajudem a:
- Acompanhar margem de contribuição por produto;
- Calcular ticket médio e lucratividade por canal;
- Visualizar aumento de custos (matéria-prima, taxas, etc.);
- Observar comportamento de recompra e sazonalidade.
Atenção: nem todo ajuste é para cima
Muitas vezes, ajustar o preço para baixo é necessário — especialmente quando há uma mudança de cenário, lançamento de um concorrente mais agressivo ou uma retração no consumo.
Mas o ideal é que isso seja feito sem sacrificar sua margem, e sim com base em:
- Otimização de custos;
- Ganho de escala;
- Melhora na logística ou nos processos internos;
- Negociação com fornecedores.
O importante é lembrar que ajustar preço não é sinal de fraqueza, mas de inteligência estratégica. E isso vale tanto para reduzir quanto para aumentar.
Considerações finais
No fim das contas, calcular o preço de venda não é só uma questão matemática. É uma habilidade essencial para qualquer empreendedor que deseja crescer com saúde financeira, clareza e autonomia.
Com base na experiência da Notazz atendendo milhares de negócios todos os meses, podemos afirmar com segurança: quem domina a precificação com estratégia e consciência consegue se planejar, inovar, escalar e até errar com segurança.
Lembre-se:
- Conheça bem seus custos.
- Defina sua margem de forma estratégica.
- Use o markup como ferramenta de clareza, não como bengala.
- Estude seu mercado e seu cliente continuamente.
- Teste, ajuste e acompanhe seus resultados com frequência.
E acima de tudo: valorize o que você entrega.
Você não vende apenas produtos. Você entrega valor, experiência, conveniência, transformação. E isso precisa estar refletido no preço.
Se precisar de ajuda para organizar sua gestão financeira, emissão de notas ou controle de vendas, conheça o Notazz: somos uma plataforma pensada para facilitar a vida de quem empreende e quer crescer com segurança.